Na sua apresentação no IV Encontro Convergir, que se realizou na Trofa, em 29 de Maio de 2010, o Prof. José Portela falou sobre o tema «Do Contra-Desenvolvimento ao Desenvolvimento Sustentável», situando o desenvolvimento local alternativo como possibilidade de evitar as destruições do «contra-desenvolvimento» convencional.
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Duração Total: 30:51
Na sua opinião, “na nossa aldeia global desenvolvimento é um termo que nos procura seduzir” quando na verdade o que encontramos à nossa volta é muito contra-desenvolvimento, isto porque, este termo “sustentabilidade” que começou por ser usado em relação à temática ambiental foi capturado por outras entidades que o usam em sentidos diversos.
Assim, empresas, agricultores, cidadãos, governos, ongs, banqueiros… todos eles falam de ambiente e sustentabilidade, mas com ideias diferentes, considera por isso que “o desenvolvimento sustentavel é uma noção simpatica mas pode levar-nos por caminhos de acomodação”.
O desenvolvimento deve por isso ser visto a partir de diferentes perspectivas: para quem? para quê? a que escala (geográfica e temporal).
Considerando que o desenvolvimento sustentável é para o Homem, temos ainda que considerar de que forma o Homem se relaciona com a Natureza. Enquanto que no passado o Homem submetia-se à natureza, numa segunda fase passou a conseguir (ou pensar que consegue) controlar a natureza e finalmente nos dias que correm cada vez mais pessoas consideram que o Homem deve conviver com a Natureza, assumindo que há uma relação delicada entre ambos e que nós (Homem) só estamos aqui de passagem.
O que leva à questão de saber o que é o Homem, e para o Prof. José Portela, o Homem é principalmente um ser em interrelação permanente, na sua relação quotidiana com a Terra, na relação transcendental e psicológica (com nós mesmos e com os outros)
Ainda nesta análise do desenvolvimento sustentável é preciso saber para quê, quais são os fins e o Prof. José Portela deixa algumas questões: O fim é a biodiversidade ou a sociedade; A natureza ou a comunidade; o homem ou o “bicho”; o rendimento das familias ou o pib; a frugalidade material ou o consumismo.
Também refere a questão da escala geográfica. Estamos a falar de um desenvolvimento sustentável ao nível das nossas casas? aldeias? cidades? metrópoles? globo?
Considerando o caso português refere a necessidade de haver “desenvolvimento local, in loco, para as pessoas que lá estão. Não vale a pena ficar pela ideia abstrata muito geral de desenvolvimento nacional quando com todos os recursos europeus o que há é uma concentração dos recursos do país na capital”
E finalmente deixa a ideia de que é preciso enquadrar o desenvolvimento numa perspectiva temporal. Para que condições futuras queremos a sustentabilidade?
Isto na verdade implica respondermos à questão de saber qual é a sociedade que antevemos no futuro. “Somos capazes de imaginar uma sociedade onde o homem cause um impacte que seja ele próprio sustentavel?”
Para concluir, Prof. José Portela refere que é necessária a “acção individual e colectiva imediata (…) para que haja um repensar da tecnologia, um redefinir da economia, um refazer da organização social.”
[Prof. José Portela: Universidade de Trás os Montes e Alto Douro; agregação em Sociologia Rural, UTAD, 1995; doutoramento em Sociologia Rural, University Of Wales, Reino Unido, 1988; mestrado em Agricultura e Desenvolvimento Rural, Institute Of Social Studies, Haia, Holanda, 1981; Licenciatura em Agronomia, Universidade de Lourenço Marques (Moçambique), 1973; colaboração em matérias de desenvolvimento local, nomeadamente na associação Animar e na dinâmica das ManiFESTA (https://www.animar-dl.pt/manifesta/index.php)].
A Plataforma Convergir é uma Plataforma inter-associativa de ONGs do Porto e Noroeste com actividades nos seguintes domínios:
- defesa do ambiente e do património natural
- defesa do património histórico, artístico e urbanístico
- ordenamento do território
- sustentabilidade, incluindo a gestão sustentável dos recursos e a justiça ambiental
- melhoria da qualidade da relação entre, por um lado, as instâncias políticas e administrativas, e, por outro lado, a participação pública
- acompanhamento crítico da elaboração e execução dos instrumentos de planeamento oficiais nos domínios referidos.
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