Os protestos públicos das
associações e de quase 7000 peticionários parecem não estar a surtir o efeito
desejado junto das entidades oficiais, em particular da Câmara Municipal do
Porto e da Metro do Porto. Não há efectivamente uma boa forma de descrever esta
posição autoritária de desprezo por todos aqueles que, legitimamente, procuram
defender o património e memória de uma cidade que também consideram sua. Esta
atitude arrogante é tanto mais incompreensível quanto o direito à participação
em matérias de interesse público está legalmente consagrado para intervenções
que influenciam significativamente as condições de vida da população. Acresce
que o conjunto urbano formado pela Praça Humberto Delgado, Avenida dos Aliados
e Praça da Liberdade se encontra desde 1993 em vias de classificação pelo IPPAR
– o que, só por si, demonstra como o espaço faz parte da memória colectiva da
cidade e merece ser preservado e recuperado.
O que torna o caso mais aberrante
é ainda o facto deste tipo de comportamento já ter sido repudiado noutras
ocasiões pelo actual Presidente da Câmara Municipal do Porto. O Dr. Rui Rio tem
vindo a defender, e bem, a necessidade de transparência, a gestão escrupulosa
dos dinheiros públicos e a defesa do património. Contudo, a intervenção na
Avenida dos Aliados e Praça da Liberdade vai no sentido inverso e nem mesmo os
protestos públicos provocaram uma correcção das falhas detectadas. As entidades
oficiais optaram por um autismo consciente.
Ainda assim, as associações
irão tentar dialogar, novamente, com a Câmara Municipal do Porto, com a Metro
do Porto e com o IPPAR, numa derradeira “ofensiva diplomática”. Gostaríamos que
estas entidades estivessem dispostas a lançar um concurso de ideias para a
recuperação da Avenida dos Aliados e Praça da Liberdade tendo como objectivo
principal recuperar e melhorar os seus jardins e calçada de acordo com a traça
original, aumentando o espaço dedicado ao peão e eliminando as barreiras à
mobilidade. Queremos que a Baixa seja um espaço vivo, com cor, onde dê gosto
passear. Já basta de praças inóspitas, cinzentas e desprovidas de imaginação!
Fazer cidade não pode ser
sinónimo de aplicar uma qualquer fórmula matemática ou padrão geométrico um
pouco por todo o lado, sem atender à história e ao carácter dos lugares; é,
pelo contrário, planear com criatividade e participação. O cidadão é
simultaneamente o seu objecto e objectivo. A cidade nasce do encontro das pessoas,
do seu trabalho em conjunto – é mesmo das maiores realizações da sociedade!
Ignorá-las é, por isso mesmo, promover o seu desmembramento.
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