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    Colocado em 19 de novembro de 2017
    Esta rubrica vem-se desenvolvendo no seguimento da Jornada Laudato Si,’ de  22 de outubro 2016, organizada em conjunto pelo jornal Voz Portucalense e pela Campo Aberto.

    A definição da rubrica encontra-se imediatamente a seguir. Por sua vez, é seguida do texto de mais uma das intervenções feitas na referida jornada, esta de autoria do jornalista António Marujo. Encerramos hoje provisoriamente a inclusão de intervenções dessa jornada. Caso venhamos a receber alguma(s) das ainda não inseridas, serão igualmente aqui colocadas.

    A seguir ao artigo de António Marujo, encontra uma nota sobre três livros que criticam ou se congratulam com a Laudato Si’. A nota intitula-se Como pensar a Natureza? e propõe uma reflexão que continuará a ser aprofundada nesta rubrica, abordando no futuro próximo outros ângulos de análise que não apenas a Encíclica.

    NATUREZA E PENSAMENTO
    — NAS RELIGIÕES, NAS FILOSOFIAS, NAS CIÊNCIAS, NAS ARTES

    Esta nova rubrica surge na sequência da jornada Laudato Si’, sobre a encíclica do mesmo nome, que a Campo Aberto organizou em colaboração com o jornal Voz Portucalense e que decorreu no Porto em 22 de Outubro de 2016. As informações sobre a jornada constam mais abaixo, nos textos colocados em 2016 (ao fundo da rubrica).

    Pretende-se agora manter a atenção sobre a forma como a natureza vem sendo vista, ou tem sido vista também no passado, do ponto de vista das diversas correntes de pensamento, sejam elas expressas em religiões diversas, diversas filosofias, artes e várias ciências.

    Para já, reproduzimos sínteses de algumas das comunicações apresentadas na jornada referida. Depois de termos divulgado as de Jorge Leandro Rosa e de José Eduardo Reis, uma de um ponto de vista agnóstico a segunda de um ponto de vista budista, inserimos hoje mais algumas feitas de pontos de vista diversos: António Marujo, de um ponto de vista católico e crítico, Acácio Valente de um ponto de vista católico, Álvaro Fonseca numa perspetiva laica, António Verdelho e Margarida Silva de um ponto de vista mais voltado para domínios específicos (biotecnologia, agricultura).
    Ver adiante:

    A leitura de uma encíclica entre os cristãos – notas e desabafos
    António Marujo

    A Natureza e o ambiente, segundo os ambientalistas e a Laudato Si’
    Acácio Valente

    A encíclica Laudato Si’ como manifesto político
    Álvaro Fonseca

    Sobre o cuidado da casa comum, segunda Carta Encíclica do Papa Francisco
    António Verdelho

    Os OGM – transgénicos – na encíclica Laudato Si’
    Margarida Silva

    Resurgence & Ecologist é uma publicação que segue atentamente as relações Natureza/Pensamento nas filosofias, nas religiões, nas ciências e nas artes. Neste último domínio, é a mais bela e estimulante publicação que conhecemos.

     

    Colocado em 19 de novembro de 2017

    António Marujo
    (Jornalista do religionline.blogspot.pt – texto escrito segundo a anterior norma ortográfica
    António Marujo https://www.religionline.blogspot.pt)

    A leitura de uma encíclica entre os cristãos – notas e desabafos

    Dois pontos prévios acerca da recepção, em Portugal, da Laudato Si

    – Não conheço tudo o que se tem feito; o que se fez não foi muito: conferências dispersas; Encontro Nacional de Pastoral Social e Semana Bíblica Nacional, de 2016 (actas serão publicadas); textos em jornais e revistas de inspiração católica. E pouco mais.

    – Portugal é ainda pouco sensível à questão ambiental e ecológica; no seu conjunto, os católicos portugueses não são melhores nem piores que o resto do país. O mais importante é saber como é que a reflexão proposta por Francisco é acolhida e integrada nas comunidades locais. Receio que, à semelhança de outras áreas, não haja grandes consequências (nem mesmo em questões básicas como a reciclagem e a poupança de recursos).

    Notas que destaco:

    É um texto histórico: primeira encíclica sobre o tema; o conteúdo vai mais longe do que muitos posicionamentos sobre o tema, mesmo de cientistas e governos…
    [Adiante os números entre parênteses remetem para a numeração dos parágrafos na Laudato Si’]

    1. Um texto de doutrina social católica

    Papa afirmou que Laudato Sí (Louvado Sejas) é um documento de doutrina social católica. E justificou: a nossa casa comum «está a arruinar-se e isso faz mal a todos, especialmente aos mais pobres».
    Ideia importante, porque Papa foi criticado por estar a tomar partido numa matéria que não lhe compete; mas o próprio texto sugere (49): «uma verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres». E acrescenta (63) que a doutrina social da Igreja é «chamada a enriquecer-se cada vez mais a partir dos novos desafios».
    O texto dirige-se «a cada pessoa que habita neste planeta»; e apela à acção consequente de cada indivíduo, e ainda de governos, poderes financeiros, multinacionais e organizações internacionais – âmbitos onde se percebe uma maior distância na aplicação de vários princípios da doutrina social da Igreja.
    O Papa recorda princípios básicos da doutrina social da Igreja: por exemplo (93), a ideia de que a terra é «uma herança comum, cujos frutos devem beneficiar a todos»; o de que «toda a abordagem ecológica deve integrar uma perspectiva social que tenha em conta os direitos fundamentais dos mais desfavorecidos»; e o princípio «da subordinação da propriedade privada ao destino universal dos bens» – do qual decorre a ideia de que «qualquer forma de propriedade privada» tem uma «função social».

    2. A Igreja toma partido e propõe acções concretas

    Muitas vezes, diz-se da doutrina social católica que ela não toma partido por este ou aquele campo político. Isso é verdade no campo circunstancial, mas não na afirmação de princípios irrenunciáveis, que devem ter tradução na posição dos crentes.
    A oposição de alguns à ideia de que o Papa se «meta em política ou economia» ou a oposição de políticos católicos à condenação, feita por João Paulo II, da invasão do Iraque, são reflexo de uma mesma recusa da «hierarquia de valores», afirmada pela doutrina católica. O Papa diz (23): «Há um consenso científico muito consistente, indicando que estamos perante um preocupante aquecimento do sistema climático.» Se é sabido que há quem conteste esta ideia, é evidente que Francisco está, por isso, a tomar partido por uma determinada leitura da realidade.
    Mas há mais: o Papa aponta exemplos: «A educação na responsabilidade ambiental pode incentivar vários comportamentos (…) tais como evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, diferenciar o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poderá comer, tratar com desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos ou partilhar o mesmo veículo com várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes desnecessárias…»
    Com tais sugestões, o Papa indica que a educação para a criação tem de fazer parte da missão da Igreja. Grupos católicos vocacionados para a atenção à natureza, como os escuteiros, têm campo aberto para reformular a sua actuação, desafiando pessoas, empresas e governos a uma acção mais consequente.
    Há uma experiência que, nascida de católicos, se tem afirmado na proposta de um outro estilo de vida, ligando espiritualidade e cuidado com a casa comum: a da Casa Velha, em Ourém. E A Rocha, organização fundada por protestantes e evangélicos, tem também acentuado a ligação dessas dimensões.

    3. Uma ecologia integral

    A visão do Papa Francisco é a de uma ecologia integral. Desde a escolha do título, que remete para o Cântico das Criaturas, proclamado por Francisco de Assis – padroeiro dos ecologistas e patrono do nome escolhido pelo cardeal Bergoglio para Papa.
    Esta visão franciscana entende que Deus está presente em toda a criação, mas isso tem também consequências. No n.º 10, ao evocar o santo de Assis, Francisco escreve: «Nele se nota até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenhamento na sociedade e a paz interior.»
    De novo, o Papa afirma o que muitos têm dito, quando estabelecem relação directa entre degradação ambiental e fenómenos como a delapidação de recursos dos países mais pobres, secas e catástrofes naturais como causas que agravam o empobrecimento, ou as migrações em massa…
    A meio da conferência de Paris 2015, Francisco insistia em que os líderes políticos deveriam concentrar os seus esforços numa tripla frente: “Pelo bem da casa comum, de todos nós e das futuras gerações, cada esforço deveria estar dirigido a atenuar o impacto das alterações climáticas e, ao mesmo tempo, a combater a pobreza e a favorecer a dignidade humana».
    Dias antes, na viagem ao Quénia, Uganda e República Centro-Africana, o Papa dramatizara: «É agora ou nunca mais! Até hoje, fez-se pouca coisa e, cada ano que passa, os problemas são mais graves. Atingimos o limite! Estamos à beira de um suicídio, para usar palavra forte.»
    Francisco recorda aspectos que nascem desta visão espiritual (que não espiritualista) de Francisco de Assis: o sentido das coisas e da vida, a finalidade da acção humana sobre a realidade, o trabalho enquanto «relação que o ser humano pode ou deve estabelecer com o outro diverso de si mesmo» (125); ou ainda «uma sã relação com a criação» como dimensão da mudança pessoal (218).
    A ecologia integral pressupõe, para o Papa, que não se contemple apenas de forma espiritualista ou gnóstica a presença de Deus na natureza, sem qualquer relação com a ecologia humana. Antes se sublinha a centralidade da pessoa (não como dominadora absoluta da terra, mas como administradora, cuidadora, da casa comum).
    Dave Bookless, pastor anglicano e director teológico de A Rocha: «Preocupar-se com o conjunto da criação de Deus é um princípio fundamental do Deus da Bíblia e vital para o cumprimento da sua finalidade, para os seres humanos»; a missão de salvação de Deus «não se destina apenas às pessoas que Deus criou, que ele ama, cuida e para as quais restaurou um relacionamento justo com Ele através de Jesus, mas abrange toda a criação» (Dieu, l’écologie et moi).

    4. Uma perspectiva cristã, não apenas católica

    A perspectiva de uma ecologia integral repousa também na primeira assembleia ecuménica europeia (Basileia, 1989), dedicada ao tema Justiça, Paz, Integridade da Criação. Foi a primeira afirmação dos cristãos, na sua diversidade – católicos, protestantes, anglicanos, ortodoxos… – de que há uma relação profunda, por exemplo, entre a destruição da floresta na Amazónia ou em África e a fuga de refugiados do Sul para o Norte à procura de comida.
    Embora a encíclica não cite o documento conclusivo, integra já o património comum às grandes tradições cristãs.
    O patriarca ortodoxo Bartolomeu, de Constantinopla, por vezes designado «patriarca verde», tem dedicado boa parte da sua acção pastoral à reflexão sobre as questões da integridade da criação na perspectiva de Basileia.
    A encíclica resume o actual património comum da reflexão cristã nesta matéria – recordando ainda os contributos, para este debate, dos anteriores papas e de várias conferências episcopais.
    Há um conjunto de iniciativas de Igrejas e grupos cristãos, mas em Portugal tudo isso é pouco conhecido.

    5. Cuidar o futuro

    O cuidado é uma noção fundamental na encíclica. Desde o subtítulo – Sobre o Cuidado da Casa Comum – até uma nova evocação franciscana: «Francisco é o exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral», escreve o Papa (10).
    A noção de cuidado ficou consagrada politicamente no relatório Cuidar o Futuro, da Comissão Independente População e Qualidade de Vida (1998/99), presidida por Lourdes Pintasilgo
    Papa já dedicara boa parte da homilia do início do pontificado, e várias outras referências, à ideia do cuidado. Na encíclica, retoma ideias da homilia, e perspectivas políticas do relatório Pintasilgo, hoje património da reflexão ambiental: «O cuidado dos ecossistemas requer uma perspectiva que se estenda para além do imediato» (36); o paradigma tecnocrático não parece preocupar-se com «um cuidado responsável do meio ambiente ou os direitos das gerações futuras» (109); o cuidado com a natureza não é próprio dos fracos mas deriva da visão da pessoa como justa administradora da natureza; crítica à ideia do crescimento sem limites, contrariando o discurso político e financeiro do crescimento imparável e inesgotável: «Chegou a hora de prestar novamente atenção à realidade com os limites que a mesma impõe e que, por sua vez, constituem a possibilidade dum desenvolvimento humano e social mais saudável e fecundo» (116).
    Papa diz que «há verdadeira ‘dívida ecológica’, particularmente entre o Norte e o Sul, ligada a desequilíbrios comerciais com consequências no âmbito ecológico e com o uso desproporcionado dos recursos naturais efectuado historicamente por alguns países». E exemplifica (51): «As exportações de algumas matérias-primas para satisfazer os mercados no Norte industrializado produziram danos locais, como, por ex., a contaminação com mercúrio na extracção mineira do ouro ou com o dióxido de enxofre na do cobre. (…) O aquecimento causado pelo enorme consumo de alguns países ricos tem repercussões nos lugares mais pobres da terra, especialmente na África, onde o aumento da temperatura, juntamente com a seca, tem efeitos desastrosos no rendimento das culturas.»
    (Uma versão mais desenvolvida de algumas destas ideias pode ser encontrada no cap. 8 do livro Papa Francisco A Revolução Imparável, ed. Manuscrito, que publiquei em conjunto com Joaquim Franco).

    Colocado em 19 de novembro de 2017

    COMO PENSAR A NATUREZA?

    Sempre atenta à Natureza, a revista inglesa Resurgence & Ecologist, no seu número de setembro-outubro de 2017 (n.º 304, pág. 16) insere um interessante artigo onde se faz referência à Encíclica Laudato Si’, de modo crítico, reconhecendo embora o seu valor.
    O artigo («The crashing embrace of Mother Earth», O Abraço da Mãe Terra Que Nos Tritura), de autoria de Clive Hamilton, resume a tese de um livro do mesmo autor intitulado A Terra Desafiadora: O Destino do Homem no Antropoceno (Defiant Earth: The Fate of the Humans in the Anthropocene, edição Polity Press).
    Até há pouca, a noção dominante sobre a Terra, ou Natureza, era esta: a Natureza é a nossa vítima ou a nossa serva. É certo que, para onde quer que nos voltemos, constatamos a influência humana. Ao mesmo tempo, porém, assistimos ao agitar/agir de uma Terra encolerizada, intratável e vingativa, mais distante de nós do que o foi nos últimos dez mil anos. A Natureza está a tornar-se cada vez mais distante do que quereríamos, anulando a falsa ideia de uma Natureza que nós, humanos, teríamos dominado. O Mundo que teremos de habitar será cada vez menos aquele que nós «fizemos». Será cada vez mais a Terra que voltámos contra nós.

    O Homem, senhor da Natureza?
    As ideias de domínio humano sobre a Terra (seja como senhores ou como vitimização dela) já não são válidas nesta era «geológica» nova, que, graças ao poderio humano, mas não domínio equilibrado, se justifica chamar de «antropoceno». Diz Clive Hamilton: «A Natureza já não é passiva e frágil, padecendo em silêncio, ‹a irmã que chora ou nos apela› nas palavras do Papa Francisco. Já não podemos crer que «a nossa casa comum é como uma irmã com a qual partilhamos a nossa vida e uma mãe belíssima que abre os braços para nos acolher»; ver o mundo como «confiado aos… homens e mulheres» deixou de ser uma hipótese de trabalho plausível. Agora quando a Mãe Terra abre os braços é para nos esmagar.
    O nosso objetivo deveria deixar de ser salvar a Natureza, e sim salvar-nos a nós próprios, salvar-nos de nós próprios e da Natureza, sabendo que qualquer perturbação ao Sistema Terrestre reduz as possibilidades dessa salvação. A Terra já não seria, como sugere o Papa Francisco, «um livro magnificente em que Deus nos fala e nos brinda com um vislumbre da sua infinita beleza e bondade», mas corresponderia antes a um relatório sombrio em que os cientistas nos garantem uma visão feita de padrões naturais subvertidos, incluindo um clima caótico. Ou talvez seja mais exato dizer que ela é tanto uma Terra sublime que se nos apresenta como cheia de beleza quando acalmada, ou como aterradora quando enraivecida, um planeta íntimo e um planeta alienado de nós, Mãe e Outro.

    Espiritualidade e escuta da Natureza
    Outros sábios e ensaístas ecoam a importância da Laudato Si’ numa perspetiva mais próxima da do Papa. No número mais recente de uma revista que é talvez a melhor publicação generalista existente sobre sustentabilidade (La Revue Durable, n.º 59, verão-outono de 2017, que se edita em francês na Suíça), referem-se dois livros que a citam. Num deles (A escolha do pior: do planeta às urnas, Le choix du pire; de la planète aux urnes, edição PUF – Presses Universitaires de França, Paris 2017), os autores, a jurista Corinne Lepage e o filósofo Dominique Bourg, erguem um inventário das ameaças que pairam sobre a humanidade: uma ordem mundial desestruturada, uma vacuidade ideológica geral, um liberalismo cada vez mais desenfreado, um islão radical enlouquecido, uma ciência incontrolada, uma acumulação perigosa de dificuldades ambientais não acompanhada de uma real vontade de agir, desigualdades sociais crescentes, um clima que se desagrega, etc.
    No diálogo entre os dois autores não deixam de surgir também aspetos positivos e contributos para que não se perca a confiança no futuro. Para isso, entre outras coisas, Corinne Lepage propõe uma espiritualidade inspirada na filósofa francesa Simone Weil (1909-1943). Dominique Bourg vê como função primeira da espiritualidade religar-nos à natureza e mais geralmente ao que é o dado (realidade?). A espiritualidade ocidental moderna, pelo contrário, prisioneira do par tecnociências-mercado, aprisiona-nos no interior do sistema social de que fez o seu único horizonte. Este autor congratula-se com a Laudato Si’, na qual vê uma referência de primeiro plano para escaparmos a essa armadilha, considerando que é um texto revolucionário que rompe com o autismo espiritual do Ocidente.
    Outro título publicado em França (Paris, 2017, edição CNRS-Centro Nacional da Investigação Científica), também referido nesse número de La Revue Durable, interroga-se: como nos podemos colocar à escuta da natureza? Como transmitir um sentimento de destino comum com os ecossistemas e superar o sentimento de corte ou separação com aquela? Intitulado O cuidado pela natureza (Le souci de la nature), o livro reúne vinte e sete autores sob a direção de Cynthia Fleury e Anne-Caroline Prévot. Nele se procura recriar o laço da humanidade com a natureza através da governança e das instituições, mas também os imaginários religiosos são convocados, incluindo o islão, o budismo e, não podia faltar, um cristianismo regenerado pela encíclica Laudato Si’.

    Resurgence & Ecologist  www.resurgence.org
    La Revue Durable: https://www.larevuedurable.com/

     

    Colocados em 2 de setembro de 2017:

    Acácio Valente
    (Mestre em Bioética, Gestor de Empresas
    e colaborador da Quercus em Vila Real)

    A Natureza e o ambiente, segundo os ambientalistas e a Laudato Si’

    Diagnóstico
    Como amplamente temos ouvido e visto, a natureza está muito doente e reclama ajuda urgente, sob pena de a nossa casa comum, o berço da nossa sobrevivência e o ambiente da nossa existência, deixar de ser respirável e tudo sucumbir…

    A sociedade humana mostra-se impávida e serena, e os governos das nações continuam empurrando o problema para a frente, ignorando as terríveis e inevitáveis consequências da nossa agressão à mãe natureza. A prova disto, são os sucessivos fracassos das cimeiras mundiais sobre o meio ambiente A este propósito, refere o Papa Francisco: «verifica-se um certo torpor e uma alegre irresponsabilidade»!..

    Quem aparece a dar voz a este grito
    e a propor o comportamento humano mais adequado
    Pessoas, individualmente, organizações e associações, duas das quais, a Campo Aberto e a Quercus, não se cansam de denunciar as agressões que estamos a infligir à natureza. Mas, digamos em abono da verdade que, sempre, a Igreja esteve na linha da frente, com uma palavra de denúncia e anúncio. S. Francisco de Assis é o verdadeiro ícone do amor à natureza e o precursor da Ecologia Integral. Diz, muito claramente, o Papa Francisco: «Quando o ser humano destrói a biodiversidade, compromete a integridade da terra, contribuindo para a mudança climática, contamina a água, o solo e o ar, tudo isto é pecado!..». Identifica, como raiz do problema, a cultura tecnocrata que temos vivido e a vincada convicção de auto-suficiência do ser humano.

    As Associações Ambientais, mais direcionadas para os problemas específicos e concretos do dia-a-dia que afetam determinada região ou grupo populacional. Pelo contrário, o Magistério da Igreja preocupa-se mais com os problemas globais que afetam a humanidade e não tanto com cada parte do todo. Não admira, pois, que o conteúdo das suas propostas seja mais fundamentado, elaborado e sistematizado, por forma a encontrar a verdadeira solução, fruto de uma visão holística do problema, onde todas as dimensões intervenientes são tidas em consideração e objeto de uma análise rigorosa e científica. Conclusão: uma e outra são de uma assinalável riqueza quanto à finalidade e objetivos que servem. Ambas se complementam na procura de uma solução, eficaz e eficiente, para os problemas do homem e da humanidade.

    O que uma tem mais que a outra
    Ambas diferem, substancialmente, quanto à forma e ao conteúdo, na conceção e apresentação das suas propostas…

    A mais-valia da Laudato Si (LS), em relação às Associações Ambientais.
    1 – A sua visão holística do problema permite-lhe diagnósticos mais corretos e verdadeiros, bem como soluções mais adequadas. A necessidade de uma fundamentação mais profunda permite-lhe uma exaustiva identificação dos fatores que contribuem para a crise ecológica. Sugere, por isso, a necessidade de procurar outras formas de entender a economia e o progresso, juntamente com a necessidade de mudança nos estilos de vida.
    2 – As propostas do Magistério/LS são muito mais eficazes na procura de uma conversão ecológica. Desde os primeiros livros da Bíblia se nota uma relação muito íntima entre o ser humano e a terra. Génesis 2, 7, diz: «nós mesmos somos terra». Há como que uma identidade genética entre nós e o planeta.
    3 – A força da Fé dá mais força ao amor pela natureza, ao respeito pelo ambiente e à proteção do homem. O crente contempla o mundo e a natureza, não como alguém que está fora dela, mas, dentro, reconhecendo que o Criador nos uniu a todos os seres. O olhar contemplativo que vem da Fé leva-nos muito mais longe na erradicação de tudo quanto faz mal à natureza.
    4 – A LS identifica e revela a verdadeira solução para a crise ambiental e humanitária: A Ecologia Integral. O grande precursor da ecologia integral é S. Francisco de Assis, um místico que vivia em harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo. Este modelo de relacionamento entre todas as criaturas integra a preocupação pela natureza; a justiça para com os pobres; o empenhamento na sociedade e a paz interior. Todas estas dimensões do ser humano são inseparáveis.

    Vejamos, agora, a mais-valia das Associações Ambientais em relação à LS
    1 – Forte consciência de Grupo.
    2 – Maior poder interventivo.
    3 – Maior capacidade de divulgação das suas ideias e projetos na Comunicação Social e Redes Sociais.
    4 – Maior espírito de sacrifício na defesa de uma causa justa.

    Então, o que seria altamente desejável e urgentemente recomendável?

    O Magistério da Igreja ter a coragem de adotar um pouco das mais elementares regras do «marketing» pastoral, recurso que os movimentos e associações ambientalistas fazem tão bem; e estes, aproveitarem o manancial de sabedoria e cientificidade que brota dos documentos do Magistério da Igreja.

    Linhas de orientação
    1 – Constituição de Grupos de trabalho para elaboração de Programas/soluções a dar às diferentes situações. É imperioso que tenhamos nessas «comissões» pessoas especializadas em todas as áreas, não esquecendo o contributo indispensável do Magistério da Igreja.
    2 – Implementação de um Plano de Educação para a Espiritualidade ecológica, assente nos seguintes pilares: a) A necessidade urgente de um outro estilo de vida. b) A necessidade urgente de uma Educação Bioética, cuja regra sagrada é o respeito absoluto pelo outro.
    3 – Criação de uma Política de «Marketing», comunicação e divulgação, com o objetivo de despertar a consciência de cada cidadão para a necessidade urgente de pararmos com as agressões à natureza.
    4 – O Papa Francisco conclui a sua Encíclica LS de uma forma brilhante e magistral: «A melhor maneira de colocar o ser humano no seu lugar e acabar com a sua pretensão de ser dominador absoluto da terra, é voltar a propor a figura de um Pai Criador e único dono do mundo; caso contrário, o ser humano tenderá, sempre, a querer impor à realidade as suas próprias leis e interesses.»

     

    Álvaro Fonseca
    (Doutorado em Microbiologia,
    ex-docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia
    da Universidade Nova de Lisboa).

    A encíclica Laudato Si’ como manifesto político

    Mais do que uma missiva «ambientalista» ou um apelo pastoral aos valores cristãos, a encíclica Laudato Sì constitui um verdadeiro manifesto político no que tem de análise perspicaz das crises interligadas que nos afetam – económica, social e ecológica – e das suas raízes humanas, assim como no alcance das propostas de ação individual e coletiva. Numa linguagem acessível e citando ora textos religiosos ora relatórios científicos, o Papa estabelece uma ligação clara entre a crise ecológica, a crise social e o modelo de desenvolvimento globalizado de base tecnocrática.1

     Caraterizando o paradigma actual de dominação, de ganância e de consumismo como uma profunda crise de valores e de modo de vida, o texto apela a uma conversão ecológica individual e coletiva que refaça a harmonia perdida pela adoção duma «ecologia integral» (Capítulo IV). A encíclica apela ainda a um diálogo abrangente na sociedade, dentro e fora da Igreja, proposta desenvolvida em detalhe no Capítulo V mas que é destacada logo na parte inicial do texto.2 O caráter político da encíclica está bem patente em numerosas passagens.3 [Sem nunca usar as palavras capitalismo ou neoliberalismo, o texto é muito claro na crítica que faz ao consumismo compulsivo, estimulado pelo poder económico e com o conluio ou anuência do poder político (N.ºs 34, 51, 55, 203, 219), bem como ao paradigma tecnocrático e aos chamados «mitos da modernidade» como o individualismo, o crescimento ilimitado, a competição desenfreada e as leis do mercado sem regras (N.os 51, 55, 56, 106, 108, 109, 123, 190, 195, 210).

    O Papa critica ainda a debilidade ou ineficácia de algumas respostas políticas a nível internacional (N.ºs 14, 54, 59, 111, 166, 169-171, 175) e apela à procura de propostas ambiciosas e continuadas que devem resultar de diálogos participados e alargados a nível local, nacional e internacional (N.ºs 14, 60, 61, 63, 139, 159, 164-201), destacando o papel-chave da pressão da cidadania nesse processo (N.ºs 179, 181, 206).

    As palavras do Papa Francisco dirigem-se tanto aos ricos e poderosos como ao cidadão comum. Mas constituem também uma mensagem clara para os cristãos que não integram na sua vida quotidiana (profissional ou pessoal) os princípios morais da doutrina cristã, e para a própria igreja católica, nomeadamente os seus setores mais conservadores, que durante décadas têm apoiado direta ou indiretamente o poder económico e financeiro que é apontado na encíclica como responsável pelo estado deplorável da nossa casa comum.

    A «conversão ecológica» que Francisco descreve (N.ºs 216-221) aplica-se tanto a laicos como a cristãos e apela ao cuidado dos bens comuns, a uma verdadeira fraternidade universal, bem como à solidariedade intergeracional (N.ºs 159-162), e a uma simplicidade e frugalidade voluntárias (N.ºs 222-224). Resta agora saber como a própria igreja católica resolverá as resistências dos seus setores mais conservadores e como porá em prática as propostas apresentadas na encíclica. Mas caberá porventura não só aos crentes como também a todos os setores laicos da sociedade tomar as mensagens do Papa Francisco como suas e transformá-las em prática quotidiana e acção política.

    Notas (citações da encíclica):

    1 «… o atual sistema mundial é insustentável a partir de vários pontos de vista, porque deixámos de pensar nas finalidades da ação humana» (N.º 61); «Um desenvolvimento tecnológico e económico, que não deixa um mundo melhor e uma qualidade de vida integralmente superior, não se pode considerar progresso.» (N.º 194)

    2 «Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental, que vivemos, e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós.» (N.º 14); «… a reflexão deveria identificar possíveis cenários futuros, porque não existe só um caminho de solução. Isto deixaria espaço para uma variedade de contribuições que poderiam entrar em diálogo a fim de se chegar a respostas abrangentes.» (N.º 60)

    3 «Torna-se indispensável criar um sistema normativo que inclua limites invioláveis e assegure a proteção dos ecossistemas, antes que as novas formas de poder derivadas do paradigma tecno-económico acabem por arrasá-los não só com a política, mas também com a liberdade e a justiça.» (N.º 53); «A submissão da política à tecnologia e à finança demonstra-se na falência das cimeiras mundiais sobre o meio ambiente.» (N.º 54); «os poderes económicos continuam a justificar o sistema mundial atual, onde predomina uma especulação e uma busca de receitas financeiras que tendem a ignorar todo o contexto e os efeitos sobre a dignidade humana e sobre o meio ambiente.» (N.º 56); «O paradigma tecnocrático tende a exercer o seu domínio também sobre a economia e a política. A economia assume todo o desenvolvimento tecnológico em função do lucro, sem prestar atenção a eventuais consequências negativas para o ser humano. A finança sufoca a economia real.» (N.º 109) «A política não deve submeter-se à economia, e esta não deve submeter-se aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia. Pensando no bem comum, hoje precisamos imperiosamente que a política e a economia, em diálogo, se coloquem decididamente ao serviço da vida…» (N.º 189).

     

    António Verdelho
    (Neurocirurgião, ex-vice-presidente da Liga Portuguesa de Profilaxia Social,
    fundador e presidente do Conselho Geral da Fundação Sanitus,
    vice-presidente da Campo Aberto, que aqui quis assinar como Micro-ecologista)

    Sobre o cuidado da casa comum,
    Segunda Carta Encíclica do Papa Francisco

    Perspetiva de um homem de ciência — assim foi apresentado o subscritor deste texto nas Jornadas sobre a Encíclica Laudato Si. Nessas Jornadas de apresentação e debate houve uma conclusão em unanimidade: da necessidade e interesse em promover uma mais vasta divulgação desta Carta Encíclica. Estas linhas dirigem-se pois a essa pequena franja de pessoas que casualmente as leiam e que pondere a leitura da Laudato Si, um texto fácil mas difícil, curto mas extenso, dramático mas talvez ainda esperançoso. Imperativo. Festina Lente [Devagar, que tenho pressa].

    Para o transeunte desavisado há o risco de, ao pegar incautamente no texto da Encíclica, ler o título e cair de imediato num equívoco: ficar na presunção de estarmos perante alguma diatribe teológica sobre um tema de origem e autoria deslocada. Desengane-se o leitor. Estamos perante um texto de síntese e perante um texto Autoral, escrito de forma focada e oportuna. Autoral no sentido de que está dotado de uma força, uma marca, uma assinatura, não especificamente do representante de deus na terra mas de alguém que não sendo um Interlocutor qualquer, se propõe a dialogar. Não é que o texto não tenha códigos, mas o jogo de denotações e conotações é de forma a permitir uma leitura perfeitamente ampla.

    A Encíclica Laudato Si dirige-se essencialmente a dois tipos de Homens: primeiro aos que, ao relacionar-se em consciência, andam à procura de uma maturidade; também se dirige ainda a um outro tipo de Homens, àqueles que, digamos, não andam à procura de nada em concreto.

    Aos primeiros, a Encíclica oferece um deleitoso exercício de dissecação que tem o interesse particular de permitir a expansão do Sujeito num território que infelizmente tem sido visto na nossa sociedade como específico ou restrito mas que, com a ajuda do Papa, se assume progressivamente como geral e de grande latitude na vida pública.

    Aos segundos, oferece-se uma oportunidade; uma doce leitura melancólica, à maneira de Camões que permite transportar o leitor para um limbo entre ânsia e tristeza. Pode ler os parágrafos, numerados de 1 a 246, como se fossem as estrofes daquele Poema que narra as vicissitudes da esquadra Lusa a navegar em direção a um destino incerto. No canto primeiro da Laudato Si, fica a conhecer os feitos de todos nós, ilustres companheiros de berço nesta humilde orbea. Depois com ritmo e cadência inebriante e inquieta, exploram-se as etiologias humanas da crise ambiental e adentra-se na proposta de uma Ecologia Integral. Claro que para captar toda a delicadeza e grandeza do texto importa abandonar qualquer sentido de filáucia e deixar-se levar…, assim como Vasco da Gama se deixou levar por Tétis ao alto do monte (Lusíadas, cap X, estrofe 75 e seguintes) para apreciar a miniatura do universo. Enfim deixar-se guiar por aquilo que afinal de contas se vem a desvelar, à contre cœur, como um mato áspero, difícil de romper e ingrato para o piso humano.

     

    Margarida Silva
    (Bióloga, coordenadora da Plataforma Transgénicos Fora)

    Os OGM – transgénicos – na encíclica Laudato Si’

    Ao contrário das alterações climáticas e de outros aspetos ambientais, nos quais a encíclica, de maio de 2015, apresenta uma posição muito forte e clara, relativamente aos organismos geneticamente modificados ou transgénicos o texto começa com uma dúvida (N.º 133): «É difícil emitir um juízo geral» sobre os OGM.

    A primeira e única vantagem que o Papa reconhece aos OGM é que o seu cultivo nalgumas regiões conduziu ao crescimento económico (N.º 134).

    Por outro lado, identifica cinco problemas:

    1- as alterações genéticas na natureza acontecem a uma velocidade muito diferente daquela que carateriza a engenharia genética na agricultura, onde estão a ocorrer a uma velocidade excessiva (N.º 133);

    2- a utilização dos OGM levou a uma maior «concentração de terras nas mãos de poucos»;

    3- o Papa assinala que os OGM podem conduzir à degradação da estrutura e complexidade dos ecossistemas para além de reduzirem a biodiversidade agrícola;

    4- o aparecimento de «oligopólios na produção de sementes» (n.º 134);

    5- a falta e o condicionamento da informação sobre os OGM, sendo que os dados por vezes aparecem enviesados segundo os interesses de quem os publica (N.º 135).

    O Papa aponta como soluções (N.º 135):

    1- a necessidade de garantir «um debate científico e social que seja responsável e amplo»;

    2- esse debate deve envolver «todos aqueles que poderiam de algum modo ver-se direta ou indiretamente afetados» e não apenas ou sobretudo os cientistas;

    3- instituição de financiamentos para investigação independente que possa tratar os OGM «com um olhar abrangente de todos os aspetos».

    Nesse sentido, isto é já uma vitória para os críticos dos OGM. Mas a posição do Papa nesses parágrafos é de grande cautela, inclusivamente referindo que «os riscos nem sempre se devem atribuir à própria técnica mas à sua aplicação inadequada». Não é pois a crítica contundente que os que contestam os OGM gostariam de aqui encontrar, muito embora, no pesar das vantagens e desvantagens, estas apareçam com mais ênfase e em maior número.

    Pouco mais de um ano depois, o Papa volta a escrever sobre agricultura, numa mensagem dirigida ao Diretor Geral da FAO por ocasião do Dia Mundial da Alimentação de 2016 (16 de outubro). Nessa carta, os OGM não aparecem referidos pelo nome; no entanto, para todos os efeitos estão bem presentes. A propósito do combate à fome, o Papa critica, num tom particularmente severo, a «produção a toda a força», aponta também a impropriedade das modificações de variedades animais e vegetais que fazem «perder aquela variedade que, existe na natureza, que desempenha – e deve desempenhar – o seu papel.» Ainda sem referir os OGM pelo nome, a Carta desaprova os produtos (e seus criadores) que, embora pareçam boa ideia no laboratório, têm «efeitos ruinosos» para a sociedade.

    Por entre outras críticas, que não tinham necessariamente de constar numa missiva sobre agricultura e clima, o Papa reclama a primazia do conhecimento tradicional sobre o poder dos que decidem tendo como único fito o seu próprio lucro. Esta é uma linguagem bem mais incisiva que a da encíclica, limitada apenas pela falta de menção direta da engenharia genética. Talvez a explicaçção se encontre no N.º 134 da encíclica em que o Papa considera não existirem ainda evidências científicas absolutas quanto ao real impacto negativo dos OGM. Os críticos dos OGM certamente consideram que as evidências científicas já deixam amplamente claro que os interesses da sociedade e das empresas produtoras dos transgénicos há muito se bifurcaram. Mas essa perceção, comum à esmagadora maioria da sociedade europeia, não é de facto partilhada pela maioria dos cientistas especialistas em OGM e em particular pelos que intervêm na sua criação.

    Considerando a preocupação que o Papa demonstrou, na Encíclica e não só, em fundamentar as suas posições com dados tecnicamente validados, é compreensível que o contacto com os cientistas competentes em OGM não lhe tenha permitido conclusões mais assertivas. Se no futuro vier por ele a ser publicado um terceiro documento sobre esta temática é minha esperança e convicção que nele será refletida uma visão mais definitiva da crítica que os OGM justificam.

    Colocado em março de 2017
    De uma jornada realizada em 22 de outubro de 2016 (ver o programa e os autores das comunicações mais abaixo, após o texto de sinopses das comunicações que, posteriormente à realização da jornada, foram sendo gradualmente colocadas neste sítio eletrónico. Do mais recente para o mais antigo, de cima para baixo. Comunicações presentes em 24 de maio de 2017, segundo aniversário da publicação da Laudato Si’:

    A Laudato Si’ vista pela ética prática do budismo
    José Eduardo Reis
    A carta que continua a ser inesperada um ano depois
    Jorge Leandro Rosa

    COMUNICAÇÕES APRESENTADAS

    Cerca de seis meses depois da realização da Jornada sobre a Laudato Si’, e na véspera do segundo aniversário da publicação desse documento notável sobre o estado do mundo, da humanidade e da natureza, prosseguimos a publicação neste e-sítio de sinopses ou resumos das comunicações apresentadas naquela jornada a que formos tendo acesso.

    Deveríamos começar pela sinopse da comunicação de D. Manuel Martins, Bispo Emérito de Setúbal, mas por motivos de saúde não foi, e talvez não venha a ser, possível obtê-la. Aguardamos no entanto que os nossos parceiros na organização desta jornada, o diretor e um colaborador do jornal Voz Portucalense (Manuel Correia Fernandes e Joaquim Armindo, respetivamente), nos façam chegar logo que possível sinopses de comunicações da parte da manhã na jornada, ou outras proferidas por elementos convidados por eles.

    Ficamos para já com a sinopse da segunda comunicação e de uma outra, feitas ambas na manhã de 22 de outubro, sendo, uma, de autoria de Jorge Leandro Rosa, membro da direção da Campo Aberto, investigador no Instituto de Filosofia da Faculdade de Letras do Porto e docente na Escola Superior de Educação do Porto – no título, poderia agora escrever-se antes: A carta que continua a ser inesperada dois anos depois…; a outra, escrita por José Eduardo Reis, Professor na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, na área dos estudos literários, investigador na Faculdade de Letras do Porto, membro das Comunidades Zen Budistas Caminho Aberto e Wild Flower, colocada posteriormente e por isso é agora a primeira a ser encontrada neste espaço (colocada em 23 de maio de 2017).

    A Laudato Si’ vista pela ética prática do budismo
    José Eduardo Reis
    (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, área dos estudos literários,
    investigador na Faculdade de Letras do Porto,
    membro das Comunidades Zen Budistas Caminho Aberto e Wild Flower)

    De acordo com os fundamentos doutrinais e a ética prática do budismo, a Encíclica do Papa Francisco Laudato Si’ (2015) pode ser considerado um documento de defesa e apologia da fenomenologia do mundo e do sentido da vida governados pelo princípio geral da interdependência. Sem elidir o facto de o budismo veicular uma conceção não-teísta da génese do universo e, por consequência, não requerer a ideia de Deus unipessoal como um Ser necessário, não deixa de ser possível discernir convergências de sentidos ou uma congenialidade de teses entre a conceção budista sobre a complexidade multidimensional e interconectada da natureza (geológica, biológica, vegetal, animal, humana e não humana) e o teor ecologista da referida Encíclica.

    Convergências não redutoras
    O sentido explicitamente teísta do seu título, inspirado num verso de um cântico de S. Francisco de Assis, «Louvado Sejas», aposto a um subtítulo definidor da sua razão de ser e âmbito de aplicação, «Sobre o Cuidado da Casa Comum», tem acolhimento e harmoniza-se sem atritos, mas também sem literais e redutoras equivalências de princípios doutrinários, com a visão budista da origem e constituição sagrada e ecocêntrica do mundo e da natureza. De facto, a ênfase colocada na Encíclica Laudato Si’ sobre o ato consciente de assistir e proteger o lugar partilhado do mundo – que não é nem habitação exclusiva nem domínio para o exercício da absoluta soberania do ser humano, antes suporte de outros seres e meio de ocorrência de fenómenos e processos físicos que o intelecto racional pode conhecer e contemplar –, é traduzível, em termos budistas, pelo empenhado e livre compromisso dos seus praticantes em cultivarem a plena consciência de si e do outro; por outras palavras, é convergente com os princípios espirituais e filosóficos do budismo que, privilegiando a compreensão ativamente ética do princípio da interdependência, preconiza uma educação da consciência superadora dos efeitos destrutivos e incontroláveis do uso limitado da razão funcional, portanto, crítica do paradigma de conhecimento antropocêntrico instituído pelo pensamento moderno europeu.
    Um outro aspeto importante, que revela uma convergência entre o magistério espiritual, filosófico e ético da doutrina essencial budista e o da Encíclica, é o que concerne o método que partilham na exposição dos problemas que abordam. Nele podemos discernir as quatro principais fases que definem o método terapêutico: diagnóstico, etiologia, remédio e sua aplicação. Assim, ao reconhecimento do sofrimento universal da experiência sensível e cognitiva do mundo, tal como este foi exposto no sermão das quatro nobres verdades, o primeiro ensinamento público do Buda e a pedra angular de toda a sua doutrina, corresponde a verificação da acelerada degradação do meio ambiente físico e da concomitante cultura irresponsável do «descarte», isto é, do agravamento das condições gerais que sustentam a experiência da vida planetária, tal como esta tese surge explicitada na Encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco.

    Diagnóstico da doença, suas causas, o remédio, terapêutica e posologia
    Em ambos os ensinamentos se recorre ao diagnóstico do problema (da doença): o sofrimento, a insatisfação, o mal-estar da experiência condicionada da vida – segundo o Buda; a poluição, a perda da biodiversidade, a deterioração da qualidade da vida humana – o núcleo central do capítulo I da Encíclica «O que está a acontecer à nossa casa» –, segundo o Papa Francisco. Em ambos os ensinamentos se indica a etiologia, as causas do problema (da doença): a ignorância e a perceção dualista e egocêntrica do mundo associada ao desejo possessivo e à aversão, segundo o Buda; a crise do antropocentrismo moderno – que constitui o tópico central do capítulo III da Encíclica, «A raiz Humana da crise ecológica» –, segundo o Papa Francisco. Em ambos os ensinamentos se identifica o remédio do problema (da doença): o nirvana ou neutralização do sofrimento mediante a extinção das suas causas, segundo o Buda; a generalização do bem comum e da justiça intergeracional promovidas por uma consciência ecológica ambiental e cultural – e que configura o capítulo IV da Encíclica «Uma Ecologia Integral» –, segundo o Papa Francisco. Em ambos os ensinamentos se estatui a terapêutica e a posologia para debelar o problema (a doença): a via do Buda, na sua tripla dimensão, ética (não prejudicar ninguém), meditativa (a prática da plena consciência e da serenidade libertadora da afeções e juízos negativos) e sapiencial (o conhecimento e vivência das coisas e dos seres na sua verdadeira integralidade e interconexão); o diálogo sobre o meio ambiente, a conversão ecológica por via da alegria e paz e do amor – as teses que constituem o núcleo temático central dos capítulo V e VI, respetivamente, «Algumas Linhas de Orientação e Ação» e «Educação e Espiritualidade Ecológicas» –, segundo o Papa Francisco.

    Duas visões sapienciais do mundo
    Certamente que uma leitura mais detalhada de cada um destes capítulos forneceria outros elementos de interpretação suscetíveis de demonstrar as convergências, os paralelismos, as analogias de sentido que estas duas visões sapienciais do mundo, independentemente dos seus distantes contextos espaço-temporais, discretas configurações culturais e espirituais e diferentes incidências dos seus objetos de análise, procuram transmitir à manifestação humana e inteligentemente sensível do fenómeno insondável (sagrado) e universal da vida em si. Esta é, no entanto, a sinopse que reflete no essencial o meu contributo da mesa redonda em que participei na jornada «A Encíclica Laudato Si’, a natureza e o ambiente numa visão ecuménica».

    Nota
    Gostaria de agradecer ao José Carlos Marques, da Associação de Defesa do Ambiente Campo Aberto, o convite para participar na jornada que deu origem a este breve texto e ao meu filho Duarte Henrique por me ter dado a ler a Encíclica Laudato Si’.

    A carta que continua a ser inesperada um ano depois
    Jorge Leandro Rosa
    (Professor universitário, investigador,
    escritor, ensaísta)

     «Ao que se deve a atual mudança climática? Devemos questionar-nos sobre as nossas responsabilidades individuais e coletivas sem recorrer a fáceis sofismas que se escondem por detrás de dados estatísticos ou de previsões discordantes. Não se trata de abandonar o dado científico do qual precisamos como nunca, mas de ir além da simples leitura do fenómeno ou de contabilizar os seus múltiplos efeitos.»

    Na Carta de Francisco ao director da FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, 14 de Outubro de 2016

    Um apelo
    Tendo o privilégio de estar na presença do Bispo D. Manuel Martins, quero fazer um apelo que, abarcando embora as igrejas cristãs e as confissões religiosas sem excepção, é particularmente dirigido à igreja cujo responsável mais proeminente nos deu este documento excepcional. Faço-o interpelando a Igreja Católica e tomando como mensageiro deste meu apelo a figura ética que é D. Manuel, alguém que colocou sempre a comunidade dos crentes diante dos escândalos sociais e éticos do nosso tempo. Peço à Igreja que, inspirada pela Laudato Si, coloque a catástrofe ambiental em que vivemos, em que vivem todos os povos, no mesmo plano moral, social e pastoral em que coloca as questões da vida e da reprodução humana. Porque, também aqui, é a vida como dádiva que está em causa, no mais profundo do seu mistério e da sua sacralidade.

    Um ano depois, a carta que Francisco nos enviou a todos continua a merecer as nossas respostas, que estão ainda longe de serem as suficientes e as necessárias. Uma dessas respostas – talvez a mais «natural» mas também a mais inesperada, de certa forma a mais penosa – deveria vir da própria igreja: o cristianismo atravessou vinte séculos do nosso destino civilizacional, esteve sempre presente nos séculos em que o ser humano estabeleceu um autêntico estado de guerra com a natureza. Finalmente, os cristãos começam a perceber que essa condição não é evangélica! Esta evidência, que S. Francisco de Assis já enunciava tão claramente, é hoje mais urgente do que nunca e interpela com a urgência que S. Paulo punha nas palavras que dirigia às primeiras comunidades cristãs. Tal como Paulo, também nós estamos diante de um Império que é surdo às nossas palavras e ao nosso cuidado. Também este império, mesmo se moderno e tecnológico, traz consigo a morte e a soberba, mas agora numa escala ainda mais cesarista e ignorante do mundo.

    O que aconteceu ao nosso mundo
    Estive, há quase vinte anos, numa reunião internacional das igrejas sobre os riscos ambientais no Mundo Mediterrâneo. Decorreu no Parque Natural dos Montes Aurunci. As discussões foram agradáveis e civilizadas. Visitámos, um belo dia, as Termas privadas do Imperador Augusto, mesmo em face do Mare Nostrum, uma visão gloriosa que nunca esquecerei. Compreendi, então, uma dimensão mais profunda da ecologia quando visitámos as Termas, vasta área de piscinas que se sucediam umas às outras sob um céu esplendoroso, todas destinadas a uma temperatura específica da água graças a um sistema subterrâneo de túneis onde inúmeros servidores mantinham as caldeiras activas.

    Mais do que nas discussões do encontro, descobri naqueles túneis – cuja vastidão é absolutamente surpreendente para o visitante incauto que desconheça caminhar sobre galerias com dez metros de pé direito e os túneis secundários que daí se ramificam – o que é esta necessidade térmica da civilização e qual é o seu consumo obrigatório de recursos. Numa das mais belas paisagens da Terra, esta recriação das condições de vida – já tecnológica, já baseada na exploração intensiva do trabalho-energia – pareceria absolutamente desnecessária. Mas tal irrazoabilidade era própria do poder humano e a prova parecia estar ali: mesmo vivendo no paraíso terrestre, aparentemente procuraremos sempre recriar um outro paraíso; aparentemente, não nos basta a generosidade de um planeta que, tudo indica, se encontra numa situação raríssima na galáxia. Maior parece ser o apelo do privilégio social que esconde a sua necessidade térmica.

    Vinte anos depois, estou de novo num debate das igrejas sobre o ambiente. Muitas coisas mudaram. Por um lado, o bispo de Roma publicou este documento inesperado e magnífico. Mas a situação ambiental global não deixou de ser o termómetro exacto desta civilização que já não é apenas termal, mas antes termo-industrial a uma escala global.

    Há duzentos anos decidimos que era possível rentabilizar os processos termodinâmicos em todo o mundo ocidental. Grosso modo, calor significa «energia» em trânsito, e dinâmica se relaciona com «movimento». Por isso, em essência, a termodinâmica estuda o movimento da energia e como a energia cria movimento. Historicamente, a termodinâmica desenvolveu-se pela necessidade de aumentar-se a eficiência das primeiras máquinas a vapor. É possível (mas improvável) que quem pega hoje no seu carro tenha ainda alguma ideia da relação entre esse gesto e o lançamento da máquina térmica dos combustíveis fósseis no séc. XIX. Mas há raízes ainda mais profundas, situadas no dealbar da nossa orgulhosa civilização latina: as piscinas de Augusto recordaram-mo vivamente naquele dia.

    Mas o calor oriundo da energia interna de um sistema não pode ser totalmente convertido em trabalho, razão por que jamais é completamente convertido em energia cinética mas antes se dispersa no meio ambiente por diversas formas. Essa é a mecânica, se assim posso dizer, do nosso problema global. Mas não diz tudo. Não diz o que poderá ser uma leitura ética e religiosa, assim como aquela social e política.

    Quero aqui ir um pouco mais longe do que as/algumas leituras da Laudato Si’ que se têm concentrado (embora nem todas) na espantosa abrangência de temas aí referidos e denunciados: poluições de diversa ordem, desperdício, mudança climática, escassez da água e outros recursos, destruição das espécies vivas, destruição dos oceanos, subida do nível do mar, desflorestação intensiva. Alguns de nós, que tínhamos observado lacunas no documento, ou hesitações na sua denúncia, como na questão dos OGM, da manipulação genética intensiva que é introduzida na produção de alimentos, vimos agora o Papa Francisco publicar uma carta ao Director da FAO onde se lê esta passagem: «está a crescer o número de quantos pensam que são omnipotentes e que podem descuidar os ciclos das estações ou modificar impropriamente as diversas espécies animais e vegetais, fazendo perder aquela variedade que, se existe na natureza, significa que desempenha — e deve desempenhar — o seu papel». E acrescenta ainda: «Selecionar geneticamente uma qualidade de planta pode dar resultados impressionantes sob o ponto de vista quantitativo, mas foram tidos em conta os terrenos que vão perder a sua capacidade de produzir, os criadores de gado que não vão ter pastagens para os seus animais, e quantos recursos aquíferos se tornarão inutilizáveis? E sobretudo, questionamo-nos se e em que medida contribuímos para alterar o clima?»

    Quem é responsável?
    Sim, enquanto documento aberto, a Laudato Si cumpre, melhor do que qualquer outro texto existente de valor simbólico, político e cultural, o seu papel. Faço aqui então uma outra pergunta: quem são as personagens da Laudato Si? Quem protagoniza a história que nos é aí contada? É certo que Deus está lá. E os santos, S. Francisco à cabeça. E a Humanidade. São participantes, mas não participantes activos no momento presente. São mais personagens morais, in illo tempore cumpriram um feito (Deus, evidentemente, criou o mundo). Quem serão, então, os protagonistas dos acontecimentos que decorrem, o desenrolar desta história colectiva, que foi bela ou pelo menos promissora e agora parece chegar a um fim abrupto? Poderão ser aqueles que detêm um arbítrio, que fazem suas certas acções ou as libertam para depois as deixarem seguir o seu curso?

    Felizmente, o discurso de Francisco já não acredita na transformação da Humanidade em grande sujeito histórico. É por isso que a carta não se dirige a um receptor colectivo, mas a cada um de nós. Mas esse discurso também não cultiva a denúncia do inimigo, embora nomeie certas posições em que os seres humanos agem mal por acto e por omissão. Há, contudo, uma noção clara dos agentes dos acontecimentos que se desenrolam. Há, se se quiser, um agenciamento claro. Aquilo que está em causa na carta é um processo que, embora complexo, é perfeitamente abarcável por aquele que quer ver. Algo que vem à luz. Aparentemente, será difícil dar-lhe um nome singular a esse agente da destruição da criação. Ele não tem traços pertencentes a um ser singular, mas é bem conhecido de todos os que estamos aqui, já que são aqueles que contam com a nossa anuência todos os dias. Esse agente é o nosso consentimento individual e colectivo.

    O nosso consentimento tem, contudo, nomes bem precisos, nomes que se escondem nos modos como vamos colocando a nossa conveniência, a nossa gula e o nosso conforto à frente do bom senso em que deveríamos viver, a fim, precisamente, que todos possam viver, agora e no futuro. No terceiro capítulo da Laudato, central do meu ponto de vista, há um nome que se desdobra (é um ser que é caracterizável por esse desdobramento) – aquele que precisamente mais se aproxima desse agente embebido no nosso modo de vida –, a tecnologia, a técnica e a tecno-ciência. Esta consciência, bem inscrita e fundamentada no texto de Francisco, é a grande ousadia da sua carta, é o tema mais arriscado e mais clarividente de um apelo a uma tomada de consciência que seja capaz de romper com um sistema técnico transformado em «bezerro d’ouro». Ela é, afinal, o sinal de que a nossa reflexão em torno das propostas da Laudato Si’ está apenas a começar.

     

    Inscrições gratuitas

    A ENCÍCLICA LAUDATO SI’, A NATUREZA E O AMBIENTE

    NUMA VISÃO ECUMÉNICA


    Sábado 22 de outubro de 2016

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    Independentemente da orientação religiosa, arreligiosa ou irreligiosa de cada um, a encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, é uma oportunidade de diálogo ecuménico entre diferentes correntes de pensamento e cidadania com vista a uma presença construtiva na vida social e cívica. Daí esta jornada.

    Um convite à reflexão e ao debate sobre um documento de grande repercussão mundial que interessa a todos que acompanham a situação presente da humanidade e do país no que respeita à natureza, à qualidade de vida e ao ambiente.

    Coorganização
    Jornal Voz Portucalense e Campo Aberto – associação de defesa do ambiente.

    Prazo de inscrição e procedimento
    De preferência até 16 de outubro, mas ainda possível por email depois dessa data o mais tardar até quinta-feira 20 de outubro. A partir daí, se só puder decidir-se mais tarde, inscreva-se por favor no próprio dia e local.

    Envie o nome, email e telefone de cada pessoa a inscrever para:

    atividadesca@gmail.com,  ou
    vp@voz-portucalense.pt

    Inscrições por telefone: Campo Aberto: 918527653; ou: Voz Portucalense: 222073610

    De preferência, escreva no assunto: Jornada 22 outubro. Para qualquer dúvida, use por favor os mesmos contactos.

    Data e hora

    Sábado 22 de outubro
. Receção dos participantes às 9:00. Encerramento: 18:00.

    Local

    Na Associação Católica do Porto, Rua Passos Manuel, 54, bem no centro do Porto.
    Veja mapa e outras informações sobre a ACP:
    https://codigopostal.ciberforma.pt/dir/0/associacao-catolica-do-porto/

    Manhã
    A encíclica Laudato Si’, o ambiente e a natureza
 numa visão ecuménica

    9:30  Acolhimento dos participantes

    10:00  Abertura da Jornada e Informações pelos Coorganizadores
    Joaquim Armindo, pela Voz Portucalense, e José Carlos Costa Marques, pela Campo Aberto

    De manhã, intervenções iniciais de D. Manuel da Silva Martins, Bispo Emérito de Setúbal (da Igreja Católica),  e Jorge Leandro Rosa, Professor e Investigador.

    11:00

    Segue-se uma mesa redonda com a participação de intervenientes de diferentes orientações de pensamento ou religiosas, com moderação de Joaquim Armindo (Diácono da Igreja Católica Romana e Doutorando em Ecologia e Saúde Ambiental), que fará igualmente uma comunicação introdutória à mesa redonda.

    Nesta participam

    D. António Augusto de Azevedo (Bispo Auxiliar da Diocese do Porto),
    D. Fernando Soares (Bispo Emérito da Igreja Lusitana – Comunhão Anglicana),
    Rev. José Manuel Cerqueira (Pastor da Igreja Metodista Portuguesa),
    Professor José Eduardo Reis (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, área dos estudos literários, investigador na Faculdade de Letras do Porto, membro das Comunidades Zen Budistas Caminho Aberto e Wild Flower),

    A mesa redonda é seguida de debate aberto, até às 12:30.

    Almoço
    Intervalo até às 14:45 para almoço livre a cargo dos participantes.

    Tarde
    A encíclica Laudato Si’ vista por profissionais de ambiente e de ciência e por cidadãos intervenientes no movimento ecoambiental


    Recomeço às 14:50

    Intervenções iniciais:
    António Marujo, jornalista (abordará a receção da Laudato Si’ a nível mundial, dentro e fora da Igreja Católica)
    Pe Manuel Correia Fernandes, Diretor do Jornal Voz Portucalense

    15:45 Mesa Redonda, moderada por José Carlos Costa Marques, presidente da direção da Campo Aberto

    Intervenções:

    António Verdelho Vieira (Neurocirurgião, ex-vice-presidente da Liga Portuguesa de Profilaxia Social, fundador e presidente do Conselho Geral da Fundação Sanitus, vice-presidente da Campo Aberto),
    Rogério Santos (Professor da Universidade Católica Portuguesa)
    Margarida Silva (Bióloga, coordenadora da Plataforma Transgénicos Fora),
    Acácio Valente (Mestre em Bioética, Gestor de Empresas e colaborador da Quercus em Vila Real),
    Álvaro Fonseca (Doutorado em Microbiologia, ex-docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa).

    A mesa redonda é seguida de debate aberto, até às 17:45.

    Conclusões e Encerramento: 18:00.

     

    Francisco Assis-3

     

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    3 comentários até agora.

    1. António Maria d'Alte da Veiga diz:

      Com os nomes que apresentam, tenho a certeza que será uma excelente jornada.

    2. António Maria d'Alte da Veiga diz:

      O tema desta Jornada é muito importante e actual. Apresento os meus parabéns e agradeço à Voz Portucalense e Campo Aberto por esta iniciativa.

    3. Augusto Küttner de Magalhães diz:

      Muito bem organizar estas Jornadas, sobre temas muito importantes e com conteúdo.

      No caso, sendo-se ou não crente, é indispensável FAZER PENSAR. Algo que não está muito em voga.
      E um leque muito bom de participantes.

      Felicitações a todos pelas iniciativa e pela participação.

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