
Visita à Cerca do Mosteiro de Tibães. Jardim do Claustro. Foto Glória Rodrigues (11 março 2023). Há no jardim e cerca de Tibães uma ligação forte com a intervenção nele feita por Ilídio Alves de Araújo, cujo legado artístico nunca deixou de estar presente na obra de restauro que ali vem sendo feita.
CICLO DE VISITAS A JARDINS HISTÓRICOS 2023
Colocado em 9 de fevereiro de 2023, revisto em 21 de maio de 2023
Nota: a primeira visita do ciclo adiante descrito realizou-se no dia 11 de março de 2023, sábado. Consistiu na visita ao jardim da Quinta de Azevedo, Barcelos e à Cerca do Mosteiro de Tibães, perto de Braga. O ciclo é coorganizado em parceria pelo Clube Unesco da Cidade do Porto e pela Campo Aberto, com apoio da Professora Teresa Portela Marques, da Faculdade de Ciências do Porto, e da Arq.ª Paisagista Teresa Andresen, que preside à AHJ – Associação Portuguesa dos Jardins Históricos, que igualmente apoia. É ainda apoiado pela associação PLANEAR – Núcleo de Arquitetura Paisagista do Porto, associação de alunos e ex-alunos da licenciatura e mestrado do curso de Arquitectura Paisagista da Universidade do Porto, e pela APAP – Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas.
CICLO DE VISITAS A JARDINS HISTÓRICOS 2023
Quatro visitas a jardins históricos portugueses ao longo de 2023 estão a ser preparadas por uma parceria para o efeito constituída entre o Clube UNESCO da Cidade do Porto e a associação de defesa do ambiente Campo Aberto.
Duas das quatro visitas foram já realizadas, uma em 11 de março, a segunda em 6 de maio. Estão agora previstas e em preparação mais duas visitas, uma no sábado 9 de setembro e outra no sábado 14 de outubro do ano corrente. Andresen.
Com esta iniciativa, as duas associações parceiras pretendem chamar a atenção para a defesa do património na sua dupla vertente, indissociável: o património cultural e construído e o património natural, ecológico e ambiental.
OS JARDINS PATRIMÓNIO E ARTE
Os jardins, e em especial os Jardins Históricos, participam dos dois planos. São, por um lado, criações artísticas, e por isso património cultural. Por outro lado, como resultantes da Arte dos Jardins, que lida com seres vivos, em especial com a vegetação, e sobretudo com as árvores, eles são património natural, fruto da colaboração entre a obra humana e a Natureza.

Ilídio Alves de Araújo, fundador da historiografia contemporânea do jardim em Portugal
As duas associações parceiras decidiram basear a programação do ciclo no livro recentemente reeditado Arte Paisagista e Arte dos Jardins em Portugal (1), de autoria de Ilídio Alves de Araújo, arquiteto paisagista e engenheiro agrónomo (1925-2015), cuja primeira edição data de 1962. Essa obra estava há muito esgotada e era permanentemente procurada por paisagistas, historiadores e outros investigadores, devido ao seu caráter seminal e único em Portugal na bibliografia sobre o tema. Assim, o ciclo torna-se também uma homenagem ao seu autor, falecido há oito anos, e de quem foi publicada em 2022 uma outra obra, essa póstuma, Arquitectura Paisagista ou «A Organização do Espaço» nas Paisagens (2), uma recolha de numerosos escritos dispersos selecionados pelo autor, na qual se faz uma análise e uma defesa da paisagem portuguesa, do território, do património natural e construído e de criações que participam dos dois planos, como é o caso das quintas de recreio e dos jardins históricos.

Capa do livro que inspira este Ciclo.
HOMENAGEM A ILÍDIO ALVES DE ARAÚJO
Ilídio Alves de Araújo é considerado pelas editoras (no sentido anglófono do termo, ou seja, na fixação do texto e sua editoração) da segunda edição do seu livro Arte Paisagista e Arte dos Jardins em Portugal, Teresa Portela Marques e Teresa Andresen, ambas arquitetas paisagistas e historiadoras da Arte dos Jardins, como «fundador da historiografia contemporânea do jardim em Portugal». Reportando-nos a 1962, data da primeira edição, o autor, no seu prefácio de então, adverte: «O ordenamento artístico dos «espaços exteriores» não tem sido até hoje objecto de qualquer atenção por parte dos nossos críticos de arte, do que resulta a quase total ignorância em que vivemos acerca de tantas criações com que o nosso património artístico tem sido enriquecido ao longo dos séculos que esta arte conta entre nós».
No mesmo prefácio, e unindo o saber erudito e científico ao sentimento cívico de defesa do património, denuncia «a destruição de que, à sombra dessa ignorância, vão sendo impunemente vítimas tantas obras de arte de real valor.» E acrescenta: «… essa onda de destruição tem actuado com tal furor que, se lhe não for posto rapidamente um travão inabalável, acabaremos por nos ver estupidamente desfalcados de um dos mais valiosos sectores do nosso património artístico.»

Visita à Cerca do Mosteiro de Tibães. Escadaria. Foto Glória Rodrigues (11 março 2023)
PROTEÇÃO URGENTE E EFETIVA DOS JARDINS HISTÓRICOS
Sabemos agora que tal travão não foi acionado, e o próprio autor aponta, no seu livro póstumo já referido, destruições em quintas e jardins históricos, não apenas até 1962, mas também nas últimas cinco décadas.
O ciclo de visitas das duas associações organizadoras em parceria pretende igualmente chamar a atenção para a necessidade de proteção urgente e efetiva do que resta desse património e incentivar o cultivo do amor pela arte paisagista e pela arte dos jardins em Portugal.
1 Edição da Câmara Municipal de Lisboa 2020, no âmbito das edições Lisboa Capital Verde Europeia 2020, podendo ser adquirido em https://blx.cm-lisboa.pt/product/arte-paisagista-e-arte-dos-jardins-em-portugal/
2 Edições Afrontamento, Porto 2022.
