O Dia Nacional dos Jardins foi criado em 2023 pela Assembleia da República em Homenagem a Gonçalo Ribeiro Telles, arquiteto paisagista que introduziu em Portugal a legislação ambiental e de conservação da natureza atualmente desrespeitada e deturpada frequentemente.

Sobre ele, Fernando Santos Pessoa, por ele nomeado, poucos anos depois do 25 de Abril, primeiro Presidente do Serviço Nacional de Parques, Reservas e Património Paisagístico, escreveu, em 2022, ano do centenário do nascimento de Ribeiro Telles em 22 de maio de 1922, um artigo elucidativo.

POR UM URBANISMO COM FUTURO, POR UMA CIDADE AMIGA DAS ÁRVORES
Colocado em 26 de maio de 2024

Requiem por mais um jardim sacrificado na cidade, num processso urbanístico que está ainda por explicar de forma convincente.

Numa época de aquecimento global, os decisores não sabem senão repetir a mesma «receita» de sempre: autorizar a destruição de arvoredo e de solo herbáceo, em clara contramaré do que exigiria, não só a interpretação dos sinais que se vêm multiplicando há décadas, mas ainda o recente estudo de uma equipa de investigadores da Universidade do Porto que evidencia a tendência à destruição dos solos e da vegetação, estudada num período que vai desde 1947 a 2019 – mas que tem prosseguido continuamente mesmo depois dessa data.

No sábado 25 de maio de 2024, celebrámos o Dia Nacional dos Jardins, lamentando que se tivesse perdido a oportunidade de transformar um «jardim» informal embora mantido durante décadas pela Câmara Municipal do Porto, num jardim «real» como tal reconhecido pela CMP desde o final dos anos 1980. A Câmara sabia bem, aliás, como era querido dos moradores. Falamos do jardim entre a Rua de Contumil e a VCI, na zona do Nó das Antas, que está a ser destruído por um empreendimento urbanístico.

Mais informações estão disponíveis neste site, num artigo em que se destaca o histórico das tentativas dos moradores, desde pelo menos 2004, de preservar este espaço sem construções, e num outro que enquadra este episódio no contexto da situação ecológica da humanidade e, também por isso, no contexto da situação da cidade.

Se é certo que estamos perante um facto consumado, seria ainda útil inquirir junto da CMP a resposta a algumas questões:

1 – que parte da área intervencionada passará para o município, com identificação em mapa;
2 – quais os planos da CMP para essa área, incluindo pontos de acesso ao espaço verde público que foi prometido;
3 – cronograma para a disponibilização deste espaço verde público;
4 – identificação das árvores existentes marcadas para abate e tentar conseguir minimizar o número de árvores a retirar. Sobre este último ponto já será difícil obter uma resposta em tempo útil, mas poderá ainda tentar-se, quanto mais não seja «para memória futura»

Foto Alda Sousa

Cerca de quarenta pessoas reuniram-se em torno dessa celebração nesse local. Foi um ato apenas simbólico. Sabemos que só os titulares de cargos autárquicas têm o poder de decidir casos como estes mas seria bom que, em vez de com arrogância, encarassem estas situações com modéstia, reconhecendo que foram incapazes, sejam quais forem as razões, de fazer o que a cidade realmente precisa.

A eles caberia criar as condições para salvaguardar o património arbóreo e vegetal da cidade, e não pactuarem com os que o delapidam, resolvendo a tempo os labirintos jurídicos e financeiros que tal exigiria. Recorde-se que este espaço agora desvirtuado foi protegido como zona verde no Plano Diretor Municipal de 2005, acabando por tal proteção ser removida em 2012 em condições ainda não inteiramente esclarecidas.

Foto Nuno Quental

Foto Alda Sousa

Se a iniciativa pertenceu à Campo Aberto, tivemos a companhia de alguns moradores das proximidades, e de outras associações amigas, por exemplo o Clube UNESCO da Cidade do Porto, a MUBi – Associação para a Mobilidade Urbana em Bicicleta e a AVE – Associação Vimaranense para a Ecologia.