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A recolha de assinaturas

Dar maior visibilidade ao movimento cívico que se insurge contra a intervenção em curso na Baixa e angariar subscritores do Manifesto em Defesa da Avenida dos Aliados [1] foi um dos objectivos da reunião pública [2] realizada na passada quarta-feira e aqui [3] noticiada.

Na próxima segunda-feira vai proceder-se à 1ª contagem de assinaturas e à publicação dos resultados. No entanto a recolha de assinaturas irá continuar pois há inúmeros cidadãos que só agora estão a ter conhecimento do “abaixo-assinado” e do projecto!
Se quiser subscrever o Manifesto por favor peça informações para portoaliados@sapo.pt [4]

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Invulgar exemplo de cidania é o caso deTeresa Leal (que vemos de pé na fotografia) senhora de avançada idade que tomou a iniciativa de promover um “abaixo-assinado” e conseguiu recolher nada menos do que 1080 assinaturas contra as obras, que já foram entreguesà Câmara, à Assembleia Municipal e ao Governo Civil. O texto subscrito era o seguinte:
«Movimento Cívico de Cidadãos do Porto contra a substituição da Calçada Portuguesa na Avenida dos Aliados por granito
Grupo de portuenses indigandos com as mudanças radicais, sucessivas e, em muitos casos , inoportunas que têm vindo a ocorrer na cidade, de há uns anos para cá, vem manifestar a sua oposição ao desaparecimento da Calçada Portuguesa, substituída por granito, constante do projecto de requalidficação da Avenida dos Aliados.
Quando em todas as cidades europeias se tenta preservar os vestígios da História, aqui estraga-se, apaga-se, delapida-se património, não olhando aos custos que tais acções acarretam e sobretudo a perda de valores que constituem a memória colectiva de todos nós.»

(Comentário: Pois foi justamente contra este respeitável grupo de cidadãos que um conhecido arquitecto da nossa praça se insurgiu em termos desrespeituosos num artigo de baixíssima categoria publicado no último número da revista UPorto .
Lamentável que em vez de apreciar criticamente o projecto -presumo ter sido isso o que lhe foi solicitado- o autor do referido artigo se perca em juízos de valor sobre as pessoas que não simpatizam com a chamada “requalificação”.)
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2 Comments To "A recolha de assinaturas"

#1 Comment By Anonymous On 18/09/2005 @ 20:31

Vivam! Só ontem reparei na Baixa que havia um manifesto a subscrever, contra o cinzentismo das nossas memórias (não bastava termos tido o cinzentão durante quase 50 anos) nas várias praças do Porto. A saber, coleccionando a raiva, só desde o Porto 2001, o largo da Cadeia da Relação, a intervenção no Jardim da Cordoaria, o Carmo e o lajeado rodeando a Universidade, a Praça D. João I, a casa da Música e respectivo abate de árvores no jardim (a limpeza era tão somente o que precisava) para melhor visibilidade dos milhões gastos, o desgraçado furo do túnel a sair no Carregal que mais parece para triciclos, a subsituição de bancos de jardins com azulejos e história por novíssimas concepções de “como conversar guardando as devidas distâncias” (ex. bancos subsituídos no jardim junto à praia do Homem do Leme por poltronas de pedra preta rectilineia separadas)… e sei lá que mais. Na semana passada fui ao Hospital de Santo António e apetecia-me gritar:onde estão as árvores da minha infância? Que diabo, não sou assim tão velha, ia tomar banho ao Viriato ainda o jacarandá era novo!! Pois todas as árvores da rua do lado direito da entrada actual, simplesmente desapareceram. Onde e a que desoras andam os ladrões de verde, os ladrões da natureza, os empreiteiros e sub empreiteiros que nos esburacam a alma, a mando de um qualquer “regato” vigente?
Pronto; e já não há lugar para as fotos de meninos a correr atrás dos pombos e a pisar os canteiros de amores perfeitos, dos velhos pousando os sacos de plástico a olhar os quadrados da calçada portuguesa à procura da “estrela da sorte” (a gente saía da escola no Jardim Carlos Alberto e, debaixo das belas árvores desaparecidas, as procurávamos)… Porque em nome da modernidade e intermodalidade, com assinaturas de prestígio, se muda para pior, se destrói a imagem do Porto e todas as nossas lembranças (as pequenas feiras do Livro dos anos 50 cabiam na Praça da Liberdade e mais tarde, na Almeida Garret), ao mesmo tempo que se lava o entusiasmo com que nos reuníamos na Avenida, depois do 25 de Abril … Querem normalizar-nos, pôr-nos uma etiqueta (intervenção com fundos do Feder) e todavia nos enrodilham em acções cujo titulo é “contra a desertificação”: olhamos à volta e temos grades nas montras, lojas a cair com o podre a extravasar para as ruas, às 8 da noite nem pensar passear em Stª Catarina …”Malgré tout l’effort d’intervention”, claro, visível em várias artérias.
Não sou do antigamente, não sou contra o progresso. Acho sim que devemos, nós o que temos raízes mais fortes que árvores abatidas nesta cidade, lutar/juntar para preservar a nossa identidade: onde é moderno que se faça o moderno, onde a pedra e os troncos falam que se limpe, que se reconstrua, que se ampare amorosamente a varanda de ferro forjado e a porta de batente …
Não é preciso ter curso de arquitectura para ver isto (até suponho que com tantas obras em curso, alguns gabinetes de arquitectura entreguem os planos aos contratados a prazo que daqui a anos nada terão a ver com isso, ou ao estafeta “Ó pá, faz-me aí um desenho dos passeios e dos candeeiros nos Aliados …ah e não esqueças as papeleiras que o povo gosta é de as rebentar! Não menciones as árvores, eu depois faço-as no computador e parecerão verdadeiras.”).
Contra esta cidade que não conhecemos, contra estes projectos de gabinete, contra este deserto de granito cinzento onde só corre o lixo levado pelo vento. Pelas praças e pracetas, pelas árvores e arbustos, pelas fontes antigas recuperadas, pelas bancas com flores, pela simples limpeza dos vãos das portas, pelo canto oportuno para a mãe que passeia a criança e precisa de sombra, por passeios sem ratoeiras para os velhos, pelo espaço, se possível ajardinado, entre o automóvel e a pessoa … enfim, contra o que estão a fazer!!!
E não me venham com essa do Comércio, lutar contra moínhos de vento, contra a fuga para os Centros Comerciais: porque não “dezarmonizam” os horários de forma a manter abertas e vivas certas zonas, em certos dias? Porque não ajudam os comerciantes mais antigos a modernizar-se, porque é que as Universidades e os alunos de Gestão, de Engenharia, de Economia, de Belas-Artes, de Arquitectura não se abrem ao encontro da população, com novas ideias e projectos, com estágios nas lojas, com desenhos de alternativas? Muito têm que aprender os novos e muito têm que ensinar os velhos; mas uns ainda verão os seus sonhos materializados no futuro, enquanto que outros não verão adulta a árvore nova.
Parem a estupidez, não se assanhem contra o que era/é belo. Mudem as mentalidades!

#2 Comment By manueladlramos On 18/09/2005 @ 21:06

Puxa! O seu comentário vale por todos os outros que aqui vêm e não comentam!
Por favor mande-me um mail para [4] Gostava de saber mais pormenores sobre esse costume de procurar “a estrela da sorte” na calçada e outras coisas! 😉